Sou das pessoas que defende que devemos criar conteúdos para cada tipo de audiência e que isso é uma das bases do sucesso do marketing digital. Falarmos diretamente para um público específico cria mais empatia e aceitação da mensagem do outro lado. E quando digo “público específico” falo das diversas variáveis como as sociais ou demográficas…
Ora, esta semana aconteceu-me uma coisa que nunca me tinha acontecido.
O mês passado inscrevi-me para um curso online gratuito. Como visitei o site, fui impactada várias vezes com o remarketing em diferentes redes (uma pessoa já está à espera disso). As técnicas de marketing digital utilizadas foram bastante “intensas” e durante o curso recebi 2 e-mails diários a relembrar o horário e a dizer sempre que o curso não ficaria disponível depois.
Tudo certo.
O curso foi dado por um formador português para o mercado português e brasileiro. Durante todo o curso senti que o formador estava mais focado no público brasileiro, sempre a utilizar expressões brasileiras e a dar interagir com a audiência através do Telegram (nunca através do Whatsapp, que é o mais comum em Portugal).
O curso termina e três dias depois o formador envia um e-mail a dizer que afinal vai disponibilizar o curso, e que para ter acesso bastava aceder ao link. “Clico” no link, vejo que há um valor associado, que me pareceu bastante acessível e que até me estava a fazer considerar comprar. Regresso à minha caixa de e-mail e, nesse preciso e exato, momento recebo uma mensagem no meu Whatsapp, para fazer a compra do curso, por parte de uma pessoa que não conhecia de lado nenhum, mas que se identificava como parte da equipa.
Aqui foi quando achei que tinha sido demais.
O mercado brasileiro é muito mais agressivo e está “habituado” a técnicas de hard-selling. É um mercado onde é preciso (e perdoem-me a expressão) “fuçar”. Mas o mercado português (ainda) não é assim. A forma como o português compra, em Portugal, é diferente. Para mim, o momento em que entram em contacto comigo através do Whatsapp pela primeira vez, sem terem enviado qualquer informação antes foi como uma invasão de privacidade e perdi toda a vontade de adquirir o curso.
Trabalhando em Marketing Digital há quase 6 anos percebo todas as técnicas que utilizaram e até acho interessantes as técnicas de growth-hacking que aplicaram. Certamente outras pessoas acharam incrível, é uma questão de perspetiva, mas continuo a achar que teria sido muito mais eficaz dividir a estratégia/conteúdo em dois. Claro que dá muito mais trabalho, mas acredito que a relação de confiança com o consumidor sairia muito mais forte, e no final do dia é essa fidelização que traz mais negócio a médio e longo prazo.